“Caio, por que você não larga tudo e abre um negócio?”
Ouço isso desde os 20 anos mais ou menos. O brilho nos olhos de quem sugere essa ideia é quase hipnótico. “Faça o que ama, ganhe dinheiro com isso e nunca mais vai precisar trabalhar de verdade!” — dizem. Pena que esqueceram de contar o resto da história.
Eu quase fiz isso. Larguei tudo, apostei alto… e quase quebrei feio. O motivo? Eu ignorei a pergunta mais cruel que todo mundo deveria responder antes de pensar em abrir um negócio. Spoiler: ela não tem nada a ver com o produto, nem com o mercado, nem com a logo bonita.
O sonho dourado de abrir um negócio… e a realidade sem filtro

Pra muita gente, o ato de abrir um negócio virou sinônimo de “me libertar das correntes da CLT”. Liberdade de horário, ganhos ilimitados, café da manhã às 11h com o laptop na varanda. Parece ótimo, né?
E até entendo o fascínio. A ideia de ser seu próprio chefe vende muito bem. Só que o que não te contam é que, nos primeiros meses (ou anos), você é o estagiário, o financeiro, o atendimento, o marketing e, se der tempo, o próprio chefe. Tudo ao mesmo tempo.
E sabe o que mais? Não tem salário no quinto dia útil. Não tem férias remuneradas. Não tem ninguém pra te segurar se o negócio afundar. É você, o boleto e uma bela xícara de ansiedade.
A pergunta que ninguém te faz: você aguenta o tranco?
Essa é a tal pergunta cruel.
Você tem o emocional de titânio pra apanhar sem desistir?
Porque o romantismo de empreender morre rápido quando:
- o cliente desaparece sem pagar,
- a meta não fecha,
- o banco liga perguntando do limite estourado,
- e o apoio que parecia inabalável começa a vacilar.
Abrir um negócio é como entrar num casamento com o caos. E ele vai te testar: fisicamente, mentalmente e emocionalmente.
Você está disposto a trabalhar 12, 14 horas por dia sabendo que talvez não veja um centavo por meses?
Você vai aguentar dizer “não sei” quando tudo o que esperam de você é uma solução?
Você tem estômago pra ver concorrentes crescendo enquanto você rala pra pagar o MEI?
Porque a ideia é sedutora, mas o processo é indigesto.
Abrir um negócio exige mais que coragem – exige estratégia (e um pouquinho de loucura)
Coragem por si só é superestimada. Sabe o que eu vejo em gente que quer abrir um negócio só com coragem? Gente quebrando em seis meses.
É preciso mais:
- Um plano de negócio sólido.
- Um modelo de validação de produto ou serviço.
- Um entendimento básico de fluxo de caixa (e uma planilha que você realmente use, não só baixe).
Coragem sem preparo é só um salto no escuro.
A parte que ninguém posta no Instagram
Você já viu foto de empreendedor chorando no banheiro porque perdeu um contrato gigante? Eu também não.
Mas acredite, acontece. O Instagram mostra o cafezinho na cafeteria descolada, mas esconde os boletos vencidos e o desespero da instabilidade. Meu ex chefe que o diga…
Abrir um negócio tem seus glamours, mas também tem:
- Isolamento (trabalhar sozinho cansa o cérebro e o coração).
- Dificuldade de separar vida pessoal e profissional.
- A falsa sensação de estar sempre atrasado ou improdutivo.
E aí bate a dúvida: Será que eu devia ter ficado no meu emprego fixo?
Não é à toa que a saúde mental dos empreendedores está em alerta. Estudos mostram que fundadores têm chances muito maiores de desenvolver ansiedade e depressão do que a média da população.
Se mesmo assim você ainda quiser abrir um negócio… bom sinal!
É isso. Se você leu tudo isso e pensou: “Eu sei e ainda quero tentar”, então há esperança.
Porque a paixão verdadeira passa pelo teste da dor. E se você encara o lado feio de abrir um negócio e ainda assim sente o sangue ferver… talvez você esteja pronto.
Mas vá com consciência.
Se eu pudesse voltar no tempo, faria diferente:
- Validaria a ideia com pré-venda ou pesquisa real.
- Teria uma reserva financeira mínima de 6 meses.
- Buscaria uma comunidade ou mentoria (“empreendedor de pirâmide” não conta).
A jornada é dura, mas possível. Só não confunda empolgação com preparo.
Conclusão
Então, antes de abrir um negócio, não pergunte se você tem uma boa ideia.
Pergunte se você aguenta o tranco.
Porque o empreendedorismo é como um elevador desgovernado: muita gente entra animada… mas só continua quem se segura até o fim.
E você, já se fez essa pergunta?
Me conta nos comentários. É bom saber que não estamos sozinhos nessa montanha-russa chamada “vida de empreendedor”.