Sabe aquela ideia de que lucro bilionário é sempre motivo de festa? Esquece. No mundo dos investimentos, a festa só acontece se o mercado tiver motivos pra comemorar — e o Banco do Brasil (BBAS3) acabou de mostrar como dá pra lucrar alto e, ainda assim, tomar um puxão de orelha.
No primeiro trimestre de 2025 (1T25), o BBAS3 apresentou um lucro líquido recorrente de R$ 7,4 bilhões. Parece ótimo, né? Mas o mercado respondeu com cara feia: ações despencando, analistas rebaixando recomendações e um clima de decepção no ar.
Ou seja: o banco lucrou… mas apanhou feio. E o motivo vai muito além dos números. Vem comigo que eu te explico.
O resultado do Banco do Brasil: números que não convenceram

Vamos aos fatos: o tal lucro de R$ 7,4 bilhões veio 20% abaixo do consenso do mercado, além de representar uma queda de 23% em relação ao trimestre anterior e 20,7% menor que o mesmo período do ano passado. Doeu.
Outros números também acenderam alertas:
- O ROE (retorno sobre patrimônio líquido) caiu para 15,8%, o pior desde o 3º trimestre de 2021.
- A inadimplência no agronegócio subiu para 3,04%, puxada por calotes de produtores de soja e milho.
- A margem financeira (NII) foi castigada por um descompasso: o banco tem muitos ativos prefixados e passivos pós-fixados, e isso não casa bem com a Selic ainda alta.
- E como se não bastasse, uma nova regra contábil (Resolução 4.966) tirou cerca de R$ 1 bilhão da receita de juros.
- No meio disso tudo, o banco ainda aprovou R$ 1,91 bilhão em juros sobre capital próprio.
Resultado? Um clima de preocupação tomou conta dos investidores. E a explicação para o desânimo começa agora.

O que o mercado realmente esperava
A decepção do mercado tem nome e sobrenome: crédito agrícola deteriorado e margem financeira pressionada. Mas vamos por partes.
Segundo análise da Genial Investimentos, três pontos principais pesaram contra o BBAS3:
- Agronegócio: inadimplência de 3,04%, alta de 0,6 ponto percentual no trimestre e 1,9 ponto no ano. O problema? Soja e milho — mais especificamente, quem plantou e não pagou.
- Resolução 4.966: a nova regra exige que o banco provisione perdas esperadas até mesmo em créditos adimplentes. Isso antecipa impactos negativos do crédito, o que já bateu forte nesse trimestre.
- Margem Financeira: o tal descasamento entre o que o banco ganha e o que paga (prefixado vs. pós-fixado) deu dor de cabeça. A Selic alta só piorou o cenário. E a nova contabilidade só permitiu reconhecer receita de operações problemáticas quando o dinheiro cair de fato — regime de caixa em vez de competência. Resultado: menos R$ 1 bilhão no caixa do trimestre.
Diante disso tudo, o banco preferiu não divulgar novos números no guidance, algo que geralmente tranquiliza os investidores. Disse apenas que reavaliará as projeções no 2T25, dependendo da colheita e da estabilização da inadimplência no campo.
Só que: o mercado odeia falta de clareza.
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Reação dos analistas: um banho de água fria
O mercado não esperou muito pra reagir. As análises foram rápidas e… nada animadoras:
- A Genial trocou sua recomendação de compra para manutenção, e ainda cortou o preço-alvo.
- O Bradesco BBI também rebaixou para neutra.
- O JPMorgan, antes mesmo do mercado abrir, já dizia que o lucro havia sido fraco demais e que a reação negativa era inevitável.
Os motivos? Vários:
- Grande perda no NII (receita de juros).
- Queda na liquidez.
- O banco provisionou só 78% da nova formação de inadimplência, ou seja, ficou devendo no colchão de segurança.
- A inadimplência acima de 30 dias piorou para quase todos os segmentos:
- Empresas: +150 pontos-base no trimestre.
- Pessoas físicas: +90 pb.
- Agronegócio: +40 pb.
Ou seja, a sensação foi de queda na rentabilidade, aumento do risco e pouca transparência. E num banco estatal, isso pesa mais ainda.
Por que o mercado pune até quem lucra?

Porque o mercado não investe no que você fez — ele aposta no que você vai fazer.
E nesse caso, o discurso do BBAS3 foi mais ou menos:
“Olha, a gente lucrou, mas o cenário está difícil e não sabemos o que esperar do próximo trimestre.”
Pra quem procura crescimento e valorização de capital, essa fala soa como “melhor procurar outro lugar”.
Lucro por si só não basta. É preciso direção, ambição e clareza de estratégia.
Concorrentes como Itaú e BTG Pactual têm mostrado mais agressividade e previsibilidade — e isso, num mercado inseguro, faz toda a diferença.
BBAS3 em queda: e agora?

A reação veio na hora: as ações BBAS3 caíram 12,69% no pregão de sexta-feira (16), fechando a R$ 25,67. Foi uma pancada.
O que pode mudar esse cenário nos próximos meses?
- Melhora macroeconômica — um alívio nos juros e inflação ajudaria o setor.
- Revisão do guidance com números mais otimistas.
- Postura mais firme da gestão, sinalizando independência política.
Mas por ora, o sentimento é de cautela e volatilidade.
Quando até o lucro pesa contra
O episódio do Banco do Brasil no 1T25 deixa claro que o mercado lê muito mais do que balanços.
Ele interpreta mensagens, clima, tom, riscos e entrelinhas.
Apesar dos fundamentos ainda sólidos, o que pesou foram:
- A deterioração da carteira de crédito agrícola
- A pressão sobre a margem financeira
- A ausência de um plano claro para o futuro próximo
Quando até o lucro pesa contra, o investidor envia um recado claro:
“Não é só dinheiro no caixa. É visão, é confiança, é rumo.”
Resta saber se o BBAS3 vai dar uma resposta à altura no próximo trimestre — ou se continuará jogando na retranca.
Link de apoio (fonte):
Banco do Brasil frustra mercado, analistas rebaixam ação e BBAS3 desaba 12,7% após 1T